Exposição CAPTURAS
Presença é o estar de uma pessoa ou existência de alguma coisa em determinado lugar. Ausência é o afastamento, a falta de presença, a inexistência. Presença e ausência são questões apontadas por Martha Niklaus em suas obras mais recentes.
No quadro The Corinthian Maiden de autoria de Wright of Derby, e datado de 1784, uma donzela faz o contorno da sombra de seu amado na parede para apreender seus vestígios durante sua ausência. Assim como essa donzela, Martha Niklaus captura a presença dos seres de seu mundo próprio para contemplá-los após suas ausências.
Tais seres estão ali ainda presentes mesmo inexistentes; são as próprias sombras capturadas por uma lente e projetadas como um registro de existência anteriores. Martha conserva tais seres na lembrança através dessas sombras e marcas. Elas deixam de ser apenas o elo entre os seres que não mais estão presentes e passam a ter o caráter permanente de presença . São estas sombras que agora passam a ser a presença constante.
Em outras obras ela consegue capturar o indício desse ser através de uma malha que marca sua presença precedente; como que numa pele da muda de uma cobra ou mesmo num casulo que registra a existência do animal ali presente anteriormente.
A ausência na verdade é a falta de presença, é a inexistência. No caso de Martha Niklaus isto não é totalmente verídico já que ela transforma essa ausência numa presença. Como notamos antes, estas ausências transformam-se nos próprios objetos apresentados nesta mostra, pois os vestígios e marcas deixam de ser apenas um registro. É o caso das sombras que se movimentam dentro do espaço e dos seres que permanecem “capturados” através da malha de fios tecidos pela artista.
Franklin Pedroso
Curador
Galeria do Instituto Brasil Estados Unidos/IBEU
Rio de Janeiro, agosto de 1997
Detalhe do quadro: The Corinthian Maiden, de Wright of Derby, c. 1784